quarta-feira, 21 de julho de 2010

PSICANÁLISE


O objeto de desejo da psicanálise é o sonho de estar-se analisando o que não é analisável, visto que as peripécias humanas, avolumadas de neuroses, são indigestas e mui indispostas aos caprichos psicanalíticos... Penetrar no subconsciente das pessoas e interpretar os sonhos freudianos é um fruto do ilogismo surrealista... E depositar todas as fichas na idéia de que a nossa sexualidade infantil reprimida é a única culpada de todas as nossas histerias e neuroses; não suporta os alicerces da verdade... E o hermetismo fantasístico lacaniano do Outro (onde surge o grande sujeito acima de todas as coisas existentes) enumera uma exacerbada quantidade de incógnitas coletivas de desejar o desejo do outro que é fantasiado...

Estudei um psicanalista analisando o pensamento de Lacan, e fiquei absorvido pela idéia pellisoliana de que nada sei; mas alguns intelectuais, pretensiosos da verdade, dizem muita coisa – ainda que nada digam... A fantasística ilusão de que estou dizendo alguma coisa que faça sentido é como os sonhos mirabolantes de que ficamos ricos, enquanto dormíamos tranquilamente em nossos aposentos... A psicanálise não funciona para os pobres: os sonhos dos pobres não são interpretáveis; e os desejos dos pobres não são fantasísticos; e o Deus dos pobres não é o Outro... Fazer análise nas cabeças tresloucadas dos ricos é uma maneira razoável de ganhar a vida; mas não analisa a verdadeira complexidade dos seres humanos como um todo...

Não sou contra a psicanálise, ainda que eu seja o meu próprio analista; mas abrir as porteiras do meu secreto subconsciente ao psicanalista, isto eu não faço: as sombras cavernosas dos infinitos labirintos do meu Superid são espectros da minha linguagem pellisoliana, onde eu encontro os meus subsídios criativos inalienáveis... O meu coração esfacelado precisa muito mais de cuidados médicos; do que a psicanálise possa vir a fazer pelo meu aparelho mental: analisar a minha loucura incomensurável e profunda é improcedente, e Freud não poderia me explicar, com a devida clareza, o absurdamente inexplicável – a minha imaginação é inimaginavelmente complexa e criativa, e é bom que sejam assim os meus tormentos... Se a psicanálise pudesse curar a minha loucura; destruir-se-ia os subsídios das minhas artes pungentes... E a minha linguagem poética tornar-se-ia impolutamente poeira cosmológica...

Se a burguesia precisa da psicanálise; eu preciso das imagens psicodélicas da minha imaginação aloucada – ainda que os meus sonhos sejam tragicômicos, e que os meus desejos sejam vôos abruptos ao nada momentâneo, é no silêncio do futuro ecomunitário que se deslocam as minhas paisagens fantasísticas... A loucura da mente humana é reflexa da loucura material das injustiças sociais cotidianas; mas então de que nos serve a psicanálise empírica? Aos fricotes dos materialistas céticos talvez seja uma solução, subordinada ao Capitalismo empedernido e selvagem... A psicanálise está impedida de penetrar à minha mente; mas pode adentrar-se às páginas dos meus livros...



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