quarta-feira, 21 de julho de 2010

JANELA POÉTICA


Debaixo dos caracóis dos cabelos da Manuela há uma janela poética, onde eu me debruço para apreciar as estrelas azulecentes de um céu dourado da galáxia Trepidante da China... Manuela é uma princesa da poética pellisoliana, que resolveu elucidar o sentimento encaracolado do seu alvo coração angelical... A janela poética é o corpo escultural da Manuela, prisioneiro dos olhares sedentos da malandragem carioca, onde eu, por minha vez, tenho uma breve passagem pelo cenário de Copacabana – esta insistência em recordações de um passado agônico e falecido... Mas a Manuela, com os seus longos cabelos encaracolados, é dona de uma janela poética dos meus sonhos de Bagdá...

A janela poética, que se encontra abaixo dos caracóis dos cabelos da Manuela, tem um sorriso meigo e me oferece a carruagem com cavalos dourados, ofuscando-me deliciosos departamentos artísticos de teatralizações: e eu teatralizo uma velha e gorda mulher à espera do seu príncipe encantado, num romantismo impressionista... Os contos de fada (de mulheres solitárias e feias) são as melancolias cotidianas, infiltradas na janela poética de uma Manuela fictícia, onde as silenciosas escuridões do meu firmamento poético estalam freneticamente... Conduções hilárias das vergonhas amarelecidas pelo tempo estampam os diagnósticos das falências amorosas dos passarinhos avermelhados sobre os postes de luzes... E os clarões azulecentes das estrelas de um céu dourado da galáxia Trepidante da China são as mesmices cotidianas de um universo onírico que se dispõe no infinito dos universos infinitos, onde o nosso Deus infinito permanece imóvel e criando incessantemente...

A janela poética, que é corpo escultural da Manuela, tem os traços ingênuos das gurias do Parque da Redenção, se é que no Parque da Redenção ainda tem gurias incautas... Mas as fantasias que passam diante da janela poética absorvem a minha intensidade criativa, e eu passo a acreditar novamente no bicho papão, no lobisomem e na Maria sem queixo – que aterrorizaram a minha infância de menino abençoado de felicidades: mas não precisava de janela poética para penetrar no colorido da vida... Os meus sonhos eram angelicais; mas eu tive as minhas lindas namoradinhas de pegar na mãozinha... O resto eu não conto, pois é do meu particular: deixa-me com as minhas namoradinhas sensuais!

Ah, Manuela e sua janela poética, que poderia ser minha a tua janela, os caracóis dos teus cabelos, o teu corpo escultural e a tua boca vermelha e carnuda... Estou vendo na tua janela que os meus sonhos literários e artísticos vão se realizar: vai demorar um pouco mais o meu sofrimento; mas vai valer à pena ter amanhecido sobre os galhos do fracasso, somente para beijar uma só vez os lábios do sucesso – e que a humanidade tenha o privilégio de degustar a minha modesta arte pungente... Os segredos do meu coração melancólico estão contidos nos mistérios da arte pellisoliana, ainda que as minhas luzes azulecentes não sejam as luzes brancas da Eternidade...







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